Crítica: A ORIGEM

Divulgado como “um filme de ação passado na mente”, A Origem é isso e muito mais: um filme surpreendente que pode e deve ser visto de formas diferentes

Maurício Muniz

Por onde começar a falar de A Origem (Inception, 2010), nova aventura escrita e dirigida por Christopher Nolan, o mesmo que realizou o melhor filme de super-heróis até hoje, Batman – O Cavaleiro das Trevas?

Ok, comecemos com a história, da qual falaremos pouco pois é melhor conhecer os meandros do filme enquanto ele se desenrola (acredite):

Cobb (Leonardo DiCaprio) é o líder de uma equipe de ladrões que, graças à tecnologia, consegue entrar nos sonhos alheios e roubar informações sigilosas de mentes indefesas. O ladrão teve problemas no passado que o impedem de voltar para casa, nos Estados Unidos. Assim, quando recebe a proposta de realizar uma missão especial que pode significar um novo recomeço e a possibilidade de voltar a ter uma vida normal, ele a aceita mesmo sendo perigosa: inserir, na mente de um rico herdeiro, uma ideia proveniente de um concorrente. Para isso, Cobb reúne alguns colaboradores habituais e novos como Arthur (Joseph Gordon-Levitt), Eames (Tom Hardy) e Ariadne (Ellen Page). Um dos perigos da missão é que o plano envolve colocar a equipe em vários estágios do mundo onírico, sonhos dentro de sonhos, cada um deles um mundo diferente, onde o tempo se estica e as regras da Física mudam.

Contando assim nem parece tão complicado. E na verdade não é mesmo, mas o roteiro exige mais do espectador do que os filmes de ação convencionais que pipocam todo o verão nas telas americanas. Tudo se explica nos diálogos (portanto é bom evitar conversinhas alheias pra não “boiar” depois) e nas atitudes dos personagens. Da forma como foi concebido, A Origem é uma mistura de Missão Impossível com Sandman, a famosa história em quadrinhos de Neil Gaiman. As comparações óbvias serão com a trilogia Matrix, onde a humanidade vivia, sem consciência disso, no mundo dos sonhos e os heróis transitavam por aquela realidade fabricada realizando proezas que pareciam pura magia. Um pouco como em Matrix, a grande sacada aqui é mostrar os personagens agindo dentro de mundos que parecem o nosso mas não é, onde nada é impossível e as surpresas se multiplicam. E é nisso que está uma das grandes sacadas do filme, o que alguns criticos – poucos felizmente – não conseguiram entender: onde, quando e como começa a realidade de um sonho e onde termina outra.

Mais imporante, porém, talvez seja curtir o filme de forma simples, sem ficar procurando todos os significados possivelmente ocultos: um espetáculo de ação muito bem conduzido que subverte convenções do gênero e impressiona pela criatividade. Todo o elenco está bem e o destaque, claro, é DiCaprio, que finalmente parece estar conseguindo se afastar da sua imagem de galã teen (ou Teentanic, poderíamos dizer). Ele já tinha realizado um ótimo trabalho em Ilha do Medo e aqui confirma seu carisma como astro adulto. Michael Caine, que esteve presente nos últimos quatro filmes de Nolan, tem pouco a fazer mas é sempre bom vê-lo em atividade. Joseph Gordon-Levitt é quem acaba sendo a grande surpresa do elenco, mostrando-se um herói maduro de maneiras suaves e expressão plácida que não pensa duas vezes em partir pra luta física pra defender seus companheiros.

Claro, nem tudo é perfeito. Um dos mundos de sonho, próximo ao final, parece um tanto exagerado e sem emoção apesar das cenas de ação competentes ao estilo James Bond passadas nele. Em alguns momentos há repetições em excesso das regras deste universo: necessário para martelar na cabeça do espectador como tudo funciona, sim, mas cansa um tanto. Também falta um certo carisma a Mal (Marion Cottilard), espécie de competidora de Cobb no mundo dos sonhos, ainda mais quando se explica a importância dela no contexto geral.

O melhor sobre A Origem é mostrar-se um filme que foge do esperado. Não sei o quanto você já leu sobre o filme em outros lugares e o quanto sabe da trama, mas ele subverteu a maior parte das minhas expectativas enquanto assistia. Fosse porque algumas das cenas mais impressionantes mostradas no trailer se mostraram de importância menor na trama, fosse pelas tangentes pela qual o roteiro resolveu seguir. Neste época em que sabemos tudo que vai acontecer num filme, livro ou HQ com um ano de antecedência graças à internet, é muito bom se ver em meio a uma história que dá um nó tanto no cérebro quanto nas expectativas.

Portanto, é isso: curta o filme primariamente como uma aventura inteligente de ação. Mas, se você começar a notar uns detalhes “fora do comum” aqui e ali, umas pistas estranhas e aparentes inconsistências… bem, você estará vendo o filme com outros olhos. E os olhos certos na minha opinião. Depois volte aqui pra discutir e comentar. Porque A Origem vai deixar você pensando e querendo falar sobre seus meandros um bom tempo depois que o filme acabar e mesmo na própria sala de cinema enquanto os créditos estiverem subindo.

Um dos melhores do ano, merecedor de todos os elogios que vem recebendo e que vai dar vontade de ver de novo. Nolan mais uma vez mostra porque é um dos diretores mais talentosos da atualidade, fazendo um filme bom atrás do outro nos últimos dez anos. Agora é sentar, assistir A Origem mais algumas vezes e esperar pelo novo Batman.

Cotação Antigravidade:

Trailer INVASÃO DOS MORTOS:


12 comentários sobre “Crítica: A ORIGEM

  1. Discordo completamente do Leandro. Christopher Nolan consegue com “honra ao mérito” o que muitos diretores sonham fazer, mas não conseguem: Intelectualizar o cinema de ação (sem que o filme fique chato). ‘A Origem’ tem grandes chances de ser o filme do ano.

  2. UAU!!!
    Ontem não aguentei: matei aula no cursinho e fui assistir A Origem pq tava morrendo de curiosidade. Valeu MASTER a pena!!!
    Acho que até melhorei minha capacidade de raciocínio depois do filme:). Fiquei sem fôlego.
    Cara, faz muuuito tempo que não via um filme tão inteligente e poético. Sim, poético. Essa idéia não saia da minha mente enquanto eu assistia: Poesia. Ou música, pois pra mim o filme é, de sua própia maneira, harmônico.
    Posso estar só pirando, mas me encantei pelo filme como há muito não acontecia.
    “In Nolan we trust!” \o/

  3. Olá.
    Adoramos o blog de vocês. Já conhecem a BAD BEHAVIOR? Estamos a produzir cinema de terror em Portugal e esperamos estrear os nossos filmes no Brasil. Visitem o nosso blog.

    Abração!
    🙂

  4. “IN NOLAN WE TRUST!!!” [3]
    É incrível a capacidade do Nolan em transformar atores canastrões, em bons atores em seus filmes. A bola da vez é o Tom Hardy e o Cillian Murphy. Bacana ver o Tom Berenger de volta aos filmes da ação. Só discordo que o papel da Marion Cotillard não tem carisma. Com toda aquela beleza gelada, quem precisa de carisma ? A única coisa negativa, é a Ellen Page, muito sem sal. Mas o filme é 10 !!!

  5. Jéssica,

    Também me encantei. Aliás, como já tinha me encantado pelos dois Batmans dele e pelo Grande Truque.

    Muito bão!

  6. tá loca ana se assistiu o filme emsmo?
    pq se vc assistiu não ia querer continuação!
    a outra coisa melhor filme que já assisti

  7. SIMPLESMENTE MELHOR QUE CREPUSCULO Q AFINAL NAO ERA NEM PRA SER UM DOS FILMES MAIS ASSISTIDO NAO SEI PORQUE MAIS OS MELHORES SAO OS QUE MENOS SAO ASSISTIDO ESTE FILME E SIMOLESMENTE UM DOS MELHORES DE 2010 PODERIA GANHAR MESMO O FILME DO ANO

  8. Excelente, nota 10!!
    Filme voltado para pessoas inteligentes, com raciocínio acima da média.
    Quem não gostou, lamento… vá ver Transformers….

Deixe um comentário