Crítica: GODZILLA (2014)

A A A Godzilla-imax-poster-roars-in-161413-a-1398259793-470-75

O novo filme do lagartão erra monstruosamente em vários pontos…

Maurício Muniz

O diretor Gareth Edwards ficou conhecido nos meios cinematográficos em 2010, com o filme Monsters, de baixíssimo orçamento, sobre um casal que viaja por uma região infestada por criaturas gigantes que vieram do espaço e ameaçam a Terra. Era um filme competente, que se concentrava mais nos dramas humanos que nos monstrengos (já que não havia dinheiro pra mostrá-los muito), mas funcionava bem em sua proposta.

O problema com Godzilla, a nova versão do venerável monstro japonês produzida no mercado americano, é que Edwards parece ter se limitado a dirigir uma versão maior e com mais dinheiro de seu filme anterior, mas com uma estrutura e concepção cheia de erros e problemas.

Os créditos iniciais são a melhor coisa do filme, mostrando imagens captadas pelo exército, na década de 1950, de um ser colossal que se desloca pelo mar. Mas a trama mesmo começa há quinze anos, no Japão, quando o engenheiro Joe Brody (Bryan Cranston, de Breaking Bad) perde sua mulher (a francesa Juliette Binoche, em rápida participação) em um misterioso acidente na usina nuclear em que trabalham e que leva toda a região ao seu redor a ser isolada em quarentena por vários anos. No presente, Brody continua investigando o acidente, pois crê que algum poder misterioso o causou. O engenheiro recebe a ajuda relutante de seu filho Ford (Aaron Taylor-Johnson, de Kick-Ass), que acredita que o pai é um louco delirante. Mas sua opinião muda quando os dois entram na área isolada e descobrem a existência de um casulo gigantesco, do qual algo se prepara para emergir. Foi este ser que, pelo visto, causou o acidente na usina anos antes. Do casulo, alvo das pesquisas do cientista japonês Ichiro Serizawa (Ken Watanabe, de Batman Begins), logo surge um monstro gigante e com o poder de voar, que desaparece nos céus.

Ao tentar voltar para os EUA para se reunir a seu filho e sua mulher, Elle (Elizabeth Olsen, que ano que vem estará ao lado de Taylor-Johnson em Vingadores 2), Ford encontra o monstrengo, apelido de Muto, em Miami, onde ele começa uma onda de destruição atrás de seu sustento: qualquer fonte de energia nuclear. Quando nada parece capaz de deter o Muto, eis que surge o herói do filme. Como já aconteceu antes em sua trajetória, Godzilla aqui é o defensor da humanidade, que irá enfrentar outros monstros para “restaurar o equilíbrio na Terra”. Não parece ter grande lógica? Pois é. Mas esse não é o maior problema do filme.

Chatice Monstruosa

Um filme de monstros gigantes se digladeando pode ser chato? Pode, quando o diretor resolve privilegiar personagens humanos enfadonhos, em vez da destruição. Há cenas melosas com Ford e sua família, cenas melosas e repetitivas com Elle e seu filho, discussão demais sobre o que são e como agirão os monstros (além de Godzilla e do Muto, aparece uma fêmea para se acasalar com o ser voador). Já outras cenas acompanham os esforços pouco competentes de militares nada carismáticos que tentam destruir os bichos. Não bastasse isso, ainda há diversos problemas de edição… ou de pura falta de atenção. Em determinado momento, por exemplo, um ônibus escolar foge da destruição do monstro acelerando por uma ponte, até que um poste de ferro cai bem à frente e impede que continue seu caminho. Mas, após mais uma ou duas cenas de tensão, o ônibus precisa acelerar novamente e o poste simplesmente some, sem explicação.

Outro erro é mudar o foco do filme, tirando-o de Joe e colocando Ford como centro das atenções. Falta carisma ao personagem (e ao ator) e não ajuda que haja tantas coincidências ao seu redor: lá pelo meio do filme, temos a impressão que os monstros estão seguindo Ford  por algum motivo misterioso qualquer, já que ele parece sempre encontrá-los. Pra não falar que de Godzilla mesmo, o filme tem muito pouco. O lagartão aparece, talvez, em 20 minutos da projeção.

Mas o maior problema é a opção do diretor em não mostrar, propositalmente, as aguardadas lutas entre os monstros em duas ocasiões em que o público as aguarda ansiosamente. Por duas vezes, cria-se um clima de tensão em torno do encontro de Godzilla com os monstros para o que deveriam ser lutas avassaladoras, apenas para a plateia assistir a um corte brusco que mostra cenas inócuas com os humanos. Em seguida, a história continua e não se fala mais das lutas, quase como se não tivessem acontecido ou não fossem importantes. Mas não foi um rolo de projeção que se perdeu. Em uma entrevista recente, Edwards disse que fez isso para que o público usasse a imaginação sobre como teriam sido esses confrontos entre os monstros!

Ao final, como recompensa por sua paciência, o público presencia uma luta apenas satisfatória entre os três monstros. Duas ou três boas ideias, mas que são pouco para satisfazer a quem esperava ver um quebra-pau homérico e muita destruição. O filme tem alguns bons momentos, mas são poucos no âmbito geral. Provavelmente, as lutas que deveríamos imaginar poderiam facilmente ser melhores que o único e solitário confronto que o filme mostra. E, sejamos sinceros: pra que precisamos pagar ingressos se é apenas para imaginar lutas entre monstros gigantes, já que o diretor não quer mostrá-las? Melhor ficar mesmo em casa, então.

Domo arigato, Mr. Gojira. Mais sorte em seu próximo filme.

COTAÇÃO ANTIGRAVIDADE:

2.5

Trailer: PERDIDO E MAL PAGO – NERDS EM APUROS

6 comentários sobre “Crítica: GODZILLA (2014)

  1. Sinceramente não sei por que insistem em filmes com o Godzilla.Tinha lá seu charme em produções japonesas quando os efeitos eram divertidos e fica por isso. Provavelmente daqui uns 10 anos farão uma versão zumbi do monstro quando todo mundo já estiver saturado de zumbis.

  2. Sou obrigado a concordar com cada palavra sua. Sinto-me como se tivessem me dado um pirulito delicioso e, quando eu ia colocá-lo na boca, veio um malvado e roubou-o. Frustrado.

  3. Também não gostei muito do filme, achei que pecaram em varios momentos.

    Porém……
    Na cena do poste citada acima na ponte, eu sou obrigado a defender o filme. O poste não some do nada, o tanque de guerra que puxa ele para trás abrindo espaço para o onibus.

    Mas de resto eu concordo, não senti nenhum afeto pelos personagens e eles pouco eram importantes.

    OBS: E cadê a critica do Espetacular Homem-Aranha 2?

    Grato,

  4. Como disseram ai em cima, existe uma dificuldade de adaptação pelos americanos com relação ao Godzilla ( embora eu goste da versão de 98, como o Edu ). Muto, Muto?? quero ir conferir minha borboleta gigante favorita, haha, quando sair na TV à cabo.

  5. Me lembrei de um comentário do Maurício Muniz (acho que foi dele) que brincava dizendo que o primeiro critério para avaliar um filme era a bunda – se ficar sentado na poltrona do cinema começasse a incomodar era porque o filme não podia ser grande coisa. E foi exatamente o que aconteceu comigo durante as intermináveis horas de Godzilla… uma pena.

    P.S. fico feliz que o antigravidade parece estar “apenas” em coma induzido e não morto e enterrado, mas sinto falta do podcast…

Deixe um comentário